Bem-vindos à nova dimensão... seqüenciador de sonhos online.

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

I´m bringing sexy back…

- Eu não queria… – Ela disparava.

- Mesmo? – Ele apenas abria seu sorriso vago.

- … mesmo. Ao menos no fundo, sabe?

- No fundo? – Erguia uma sombrancelha e ria dela, ao perguntar aquilo com um ar de toda a malícia do mundo. A moça que tentava soar tão cheia de dúvidas…. – Péssima escolha de palavras, não acha?

- Você pode ficar rindo, aí… mas não sabe o que eu penso, tá? – Demorava a ligar os pontos, em sua estúpida indignação. – Ah, bobo! Não é disso que eu tô falando…

- Mas eu sim. O tempo todo… desde a primeira palavra que te disse até essa última. Até o próximo ponto final.

- Mesmo? – Ela encabulava, de súbito. Era possivelmente a coisa mais direta que ele podia lhe dizer, e certamente a mais canalha… mas era a franqueza da situação que a fazia sentir-se tão nua… – Então eu sou apenas isso aqui, né? – Puxava o lençol por sobre o corpo, como se quisesse se esconder dele. – Não sei se gosto disso, viu?

Ele se aproximava dela, com ares felinos, mãos sobre a cama… – Mas eu sei… e você gosta. Pode não querer admitir nem gostar de fazê-lo. Mas estamos aqui, não? – Poderia devorá-la com aquele olhar, por cima do imenso sorriso de besta. – E, “no fundo”, acredita… eu sei exatamente o que se passava. – Insinuava uma das mãos por baixo daquele lençol, em sinal de clara ameaça.

As bochechas dela ardiam, de tão vermelhas, mas o corpo reagia de outra forma. Aquele rapaz em nada fazia seu tipo e ela mesma se perguntava como fôra parar ali. Mas ela queria. – Tá bom… você acha que sabe tudo, né?

- Se eu estiver errado, tudo bem. É só você me mandar parar AGORA, que eu paro.

Ela mordia o lábio inferior e respirava fundo, sentindo tudo que aqueles dedos lhe ligavam, à pele. – Não… faz aquilo na banheira, de novo?

Ele sorria, mais para si do que para ela. Aquela guria em nada fazia seu tipo, mas tinha curvas difíceis de ignorar.

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Navegantes

São multidões sobre galés imensas. Balançando por entre ondas e pedras, sentindo o vento soprar sal em suas faces. Do topo do mastro, todos os gritos são de aviso. Perigo e medo. Cada puxar dos remos vindo da batida de um tambor imenso. Cada chibatada, uma risada aberta às costas.

É um mar de Leviatãs despertos, espertos, balançando tentáculos imensos e esticando-se em um espreguiçar, bem sob seus pés. Arriscando derrubar os algozes de seus tronos, para detroçar tudo em seguida, num naufrágio violento. Devorando tubarões moribundos e baleias já anciãs. Os sons do desespero apenas vencidos pelo bater do tambor.

São isso, naus pulsando impulsos pelo azul infinito, sobrevivendo em cada volta, a cada redemoinho. Remando sem olhar para trás. Seguindo meio a maré, meio as voltas de seus braços. Existindo, como se apenas existir lhes bastasse. Admiráveis em todo seu esforço, em cada gota de suor.

Olhassem em volta, veriam o quanto são enormes, tão maiores que seus captores… mas tão menores que seus Leviatãs.


Leviathan, de *r7ll no deviantART.

sábado, 14 de agosto de 2010

Nevoeiros...

Vem o frio, tão acolhedor numa tarde cinzenta, e parece que tudo se fecha. O mundo silencia. Não longe demais, possivelmente de uma gaiola qualquer, uma ave se pronuncia. O vento pela janela, a pele arrepiando-se e um calafrio sobressalta-me.

Ela apenas ali, deitada, dormindo tão bela. Olhá-la traz por reflexo a língua aos meus lábios. A silhueta por sob a coberta, respirando profundamente. Sente-se existir apenas em algum sonho, e isso a torna tão distante de mim... É bela, na pele alva e macia. Puxa as cobertas, sob uma nova lufada de ar. Minha respiração presa.

Tudo é cinza, senão ela. Tudo são cinzas, fora dali. A única cor vem da vida que pulsa sobre aquela cama. Lá fora, tudo arde e vai aos poucos deixando de existir... e mesmo assim, o vento ainda é frio. Um deserto de almas murmurando e gemendo, arrastando-se por entre os escombros de glórias passadas.

Talvez haja outras vidas, lá fora... mas por hora, me conforta demais simplesmente vê-la dormir.