Bem-vindos à nova dimensão... seqüenciador de sonhos online.

quarta-feira, 28 de julho de 2010

Her y cysgodion

Eram muitos. O crepúsculo aproximava-se e, enfim, seria tempo de lidar com todos eles. A besta ressoava em sua respiração compassada, sentindo a ansiedade daquela espreita prestes a projetar-lhe as garras à mostra. Mas ainda não era hora. Faltava tão pouco.

O olhar felino divisava oito sombras, à luz poente. Três delas, enormes como árvores, caminhavam de fazer tremer o chão. As outras cinco, menos assustadoras apenas pelo tamanho, mas de aparência tão aterradora quanto, hora apenas observavam, hora farejavam o espaço ao redor. As mandíbulas negras escorrendo de um visco medonho. Os olhos, tantos deles, como se vidrados no horizonte.

- Oito ameaças. – Preocupado, o homem ao seu lado avisava, em tom de medo.

- Não… oito degraus. – A besta praticamente rugia, olhando a paisagem por sobre o ombro e percebendo os últimos raios de luz deslizando para longe, por sobre os prédios. – E tá na hora de subir.

Avançava silencioso, as lâminas agora totalmente à vista, por vezes arranhando o chão, quando abaixava-se para fora da vista de suas presas. Seu olhar aguçava-se enquanto o homem o seguia de longe. A fera apoiava firmemente as pernas e curvava as costas, a respiração tornando-se um leve chiado. E a cada bater acelerado, contava um a menos para a investida.

Jogava-se, uma vez mais e com a mesma certeza de todas as outras, em um turbilhão de vida.


Werecat, de ~Teotocchi no deviantART.

terça-feira, 20 de julho de 2010

Ecos crescentes

BEIJA-FLOR *murmúrios do jardim dos sátiros*

"Pétalas de rosa". Era meio tarde para aquela constatação, mas enfim eu conseguia definir-lhe os lábios. Teria sido a melhor coisa a sussurrar logo depois do primeiro, até do segundo beijo. Mas a mente só havia chegado lá após tantos outros. Pareceria forçado, então deixei a imagem morrer em minha mente e simplesmente continuei aquele abraço tão delongado.

"Você está de blusa lilás". O melhor, imbatível, foi a expressão dela, reagindo àquela frase, ainda no celular. De alguma forma, eu havia ido em desvantagem estratégica. Sem fotos, sem sequer uma descrição esforçada, para buscar em meio à multidão. Ela tinha visto fotos, conhecia meus olhos e aquele sorriso 'marromenos' das típicas fotos forçadas. E no entanto lá estava, caminhando com toda a urgência de encontrar algo em volta, sentindo-se acuada em ser reconhecida. "OK, cadê você?"

Agora, aquele momento parecia distante o suficiente para ter fugido mesmo à memória recente. Os dois nos havíamos sentado ao restaurante e concordado em um ponto interessante: não havia fome. Ao menos por nada do cardápio. Aqueles olhos me diziam tudo o que precisavam, em meio a uma conversa até meio tolinha, mais com jeito de passatempo do que para dizer qualquer coisa realmente sagaz ou impressionante. As cantadas vinham em farpas de significados, dos dois lados e sobre a mesa decantava a ladainha de quem sente que poderia estar usando melhor seu tempo. Goles do refrigerante ajudavam a descer um pouco toda a ansiedade entalada à garganta.

Quanto tempo se havia passado? Perdido naqueles momentos, eu comecei a esquecer de olhar o relógio à tela do celular. Meus olhos se ocupavam em muito mais. Percorriam aquela pele em carícias, sentiam o pescoço macio arrepiando-se, tocando-o como se fossem meus lábios, deslizando para os cabelos, como dedos. Podia ouvi-la suspirar, enquanto essas carícias olhavam-na aos ombros, em breves lambidas e mordidas mais lascivas. Os braços, o entrelaçar de dedos, aquele colo com jeito tão acolhedor. Mas deixei o olhar demorar-se em acariciar aqueles seios. Ela notava e sorria, com jeito de safada, ajeitava o decote como se convidasse a me perder ali. Podia sentir o quanto e como eu a tocava, mesmo em meio ao local tão cheio e os dois ainda tão vestidos. Ruborizava, mais porque era uma reação graciosa e provocante do que por vergonha. Aquele colo... as coxas pressionando firmes contra a calça, marcadas, cheias de promessas escondidas. Eu poderia tomá-la com o olhar, mas fora roubado em meus instintos, para um novo beijo, tão intenso que por um breve momento deixei a mão brincar como os olhos e arrancar suspiros mais intensos e um rubor genuíno.

Aquele olhar, no entanto, certamente jamais faria jus ao desejo que agora meus dedos expressavam. A chegada ao quarto, tão afoita, os beijos perderam quaisquer travas e agora explodiam aos lábios, em mordidas, lambidas e deslizares. Escapavam às bordas dos lábios, como se um prestes a devorar o outro, enquanto os dedos percorriam aquela pele macia, já insinuando-se por sob as roupas, no rompante de arrancá-las e expor-lhe a pele. Os seios fartos deixando de decorar o vão da blusa para sentir as carícias tão firmes, os dedos em toques e apertos e os lábios mais que suspiros. Jogando-a por sobre a cama, deixo-me percorrê-la toda, agora nua, e sinto aquele corpo entregue como minha presa... os lábios e a língua já apressados, indo juntar-se aos dedos que a sentem por completo. Aquele calor, a umidade, e o aroma de sexo me inebria. Meus lábios melando-se como os de criança que se refestela em doces. A boca sente aquele outro toque, ainda mais macio que antes e agora repleto de orvalho. O sorriso matreiro desponta e olho-a.

- Pétalas de rosa. - e ela sabia, de meu sorriso, que nada seria mais delicioso que violar a beleza daquela flor. E me olhava, vadia, implorando para ser despetalada.

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Às portas…

Era fogo. Tinha certeza disso, porque ardia a pele como tal e ameaçava abrir-lhe a carne em bolhas. O cheiro também não era nada agradável. As mãos tentavam sentir a pele da coxa e vinha a súbita vontade de gritar. Não aliviaria em nada, a dor, mas era como se quisesse externá-la, de alguma forma.

Abrir os olhos foi um erro. Toda a desorientação e o mundo girando. As chamas ofuscavam-na e o fato de que tudo ao seu redor parecia prestes a derreter traziam à mente uma clássica visão do inferno. Tentar se mover foi outro erro. O grito finalmente escapava e, com ele, lágrimas. Tamanho desespero… sequer conseguia lembrar-se de como chegara ali.

Alguns olhavam, incrédulos, a extensão do acidente. Motoristas que paravam à beira da estrada, quase como mariposas aproximando-se do fogo. Os dois caminhões se haviam mesclado em uma massa distorcida, vazando areia e combustível inflamado. Era impossível ver o carro, prensado entre eles.

Ele caminhava, em meio aos carros e às pessoas. Em meio à certeza de que nada sobreviveria àquilo. Seus olhos admirando as chamas e como quebravam o silêncio da noite. E ignorava todas as mãos erguendo-se em sua direção, ao caminhar para o meio de tudo aquilo. Por um momento, alguém quisera correr para impedi-lo, mas o calor era intenso demais.

Em meio aos destroços, ela deixara-se perder em prantos e desespero. Sufocava tentando respirar, tão quente que queimava-lhe a garganta. Estava presa. A dor já querendo dar lugar ao desmaio. O cheiro era insuportável. Seus olhos arregalavam-se, quando divisavam a silhueta do homem. Caminhava pelo inferno como se nada sentisse. Um joelho apoiando-se ao chão, quando se abaixava para tocar-lhe o rosto.

- Você veio me salvar? – A esperança na voz já diminuta era tão fraca quanto o sorriso aos lábios já negros. As lágrimas corriam pouco, antes de evaporar-se.

- Não posso. – Por trás do homem, um par de asas, imponentes e alvas, descortinando-se como se pudessem afastar o fogo.

- Isso aqui é o inferno? – Havia uma estranha aceitação, naquela pergunta.

- Será bem mais frio do que isso, lá.

- Então não me prolongues a vida… – Fechava os olhos, sentindo as mãos daquele homem tomarem-lhe o rosto. As lágrimas. Sem a dor, ficaria apenas o desespero. Mas, de alguma forma, preferia não estar sozinha.

 Imagem de Luis Royo.

sexta-feira, 9 de julho de 2010

A dois… caça e caçador

Como um predador, sinto teu cheiro e teu medo. Perdendo-me na vontade de saborear teu corpo. Em um primeiro toque, açoita-te a vontade de fugir, como presa. Em seus olhos, fascina-me ainda mais a resistência ao momento.

Faminto, invasivo, voraz, ludibrio-te com um beijo. As mãos trilhando os caminhos de teu corpo, esquivando-se de pano, dedos e renda. De teus lábios, em uma voz hesitante, saltam desculpas e defesas. Tua mente teme e tenta ganhar tempo. Teima em admitir a loucura do cio e render-se em total entrega ao momento. Cala-te um novo beijo, uma mordida em teu pescoço, como o bote que derruba a caça. Em meus olhos, a loucura há muito instalada festeja teu sabor e tua pele.

Ainda debate, um pouco, relutando em aceitar o que teu corpo exige. A pele exposta, delicada e vulnerável, sob dedos que já conhecem teus segredos. A barriga treme com o toque suave, num misto de prazer e cócegas, da carícia que quase não sente, disfarçada de veludo. Os protestos ficando fracos, letárgicos... provocantes. Todos os "nãos" assumindo-se os "sims" que foram desde o começo. As carícias como correntes invisíveis, prendendo-te ao prazer e ao agora.

Mais um beijo cala teus protestos em definitivo. Os lábios por você toda, brincando com a intimidade de segredos e juras de paixão. Cobrando-te cada vez que já tenha pedido mais. Pousando em teus seios, em beijos de língua, saliva, e mãos. Jaz a presa, abatida em golpes certeiros, desejando o inexorável fim. Donde vinham protestos, pedidos misturam-se a gemidos, suspiros incontidos. Brinco com teu corpo e me inebrio em tuas palavras, que pronuncias quase sem pensar.

Implora que te tome, te faça minha não só agora, mas sempre. Demoro-me em saborear e tocar seu corpo... as roupas já no chão, ao lado da cama, esquecidas. Espero que teus olhos me digam que nada mais existe. Apenas nós dois. E ouço-te jurando que a terei para sempre, sempre que quiser. Teu corpo entregue a meus dedos, que brincam de te dar o que tanto pedes. Provocando-te até que a presa se faça também predadora. Querendo me perder junto a ti, nas tuas unhas, garras e presas.

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Sacrifício

O corpo nos braços Dele, deixando de ser da escrava. Uma vida, pulsante e quente, entregue às mãos de outrem... um ato de puro sacrifício, tornando-a uma oferenda ao Senhor. Ele sente sua pele e arrebate-a com toda a dor e o prazer que só ele sabe proporcionar. A união de corpos que começa quase como um ritual fúnebre.

Panos e roupas de um negro envolvente... a presença de um toque que acolhe o corpo inerte e entregue, sadicamente preparando-o para o sacrifício em nome Dele. Velas queimam à volta... incensos deslizam sobre a pele submissa, parecendo queimar, fazendo-a se sobressaltar como uma vítima que só percebe a realidade de sua escolha quando já está amarrada ao altar.

Por baixo da vendas, alguém chora a morte por vir. O Carrasco não pensa mais do que o necessário, não se comove... apenas a prepara. As velas se aproximando e derramando a cêra quente sobre a pele... o grito que ecoa nas paredes e volta para ela. As amarras são fortes demais... a morte a atingirá, certeira. As lágrimas saem, incontidas... sente o corpo do Carrasco se avolumando próximo e sabe que o sacrifício se inicia.

Toda a dor destes momentos, a aproximando mais do fim. Tanta... tão forte... pontadas agudas dos tapas e a batida forte do açoite. Seu Carrasco é sádico, ri de seu choro. De seu desespero. Seus lábios clamam por perdão, em súplicas incontidas. Tenta, de todas as maneiras, mudar aquela sentença com palavras e gritos de seu arrependimento. Com juras de eterna submissão e obediência.

Mas a sentença é desferida, em meio à intensidade da dor... o corpo já desejava essa morte, o fim de todo aquele sofrimento. Recebe seu momento final com prazer e geme, em satisfação profunda... as estocadas fazendo o corpo se contrair e tremer... a arma que lhe sacrifica deixando escorrer o que desde o primeiro momento já preenchia aquele corpo, em gotas que pontuam o altar... os últimos suspiros saindo em gritos incontidos... últimas súplicas e juras vãs. Sente-se morrer, várias vezes, os espasmos mais fortes, a cada pedaço de sua alma que tenta apagar-se... os nervos se anestesiando, aos poucos... o corpo que renuncia a vida e os gemidos cessando em últimos sussurros de quem tenta respirar uma última vez. Se entrega ao infinito de um nada, que parece cobrir-la. Sua mente inexiste, por alguns momentos... o corpo inerte...

Desperta ao sentir o peso, sobre si... e nota o Carrasco também morto... inerte... o corpo dele unido ao seu... dentro de si... fluidos.


The Cross of Pleasure, de Luis Royo.

quinta-feira, 1 de julho de 2010

haikai

amo assim mesmo
de pele, carne e suor
te bebo em prazer


Water ecstasy, de *Mrs-Dracula9274 no deviantART.