Bem-vindos à nova dimensão... seqüenciador de sonhos online.

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Travessuras I de III


well, de =bagnino no deviantART.

O poço era de pedra fria, os dedos delicados podiam sentir. Deslizavam pela borda, sentindo onde o vento corroera os cortes antes lisos e limpos. Sulcos, marcas… adivinhava silenciosamente a história de cada uma, com um sorriso por vezes tolo, nos lábios.

Os cabelos de um castanho tão claro, quase louro, eram tingidos de rajadas prateadas pela lua cheia. Respirava fundo, sentindo o vento brincar-lhe por entre as vestes, pela pele clara. Sentia-se liberta, ali, apoiada sobre a lateral dos quadris, com jeito de arteira. Sempre tivera medo daquele lugar, quando criança. Sua avó lhe avisara muitas vezes que não se aproximasse dali. Cada história mais terrível do que a última.

Mas ali estava. E sozinha. Era um tipo de vitória, o que o brilho de seu olhar lançava pelos campos ao redor. Carregava-lhe a beleza, os lábios em pétalas e as faces rosadas, mesmo sob a luz pálida.

Ao longe, um dos peões trabalhava a terra para o plantio do dia seguinte, sob o brilho fraco de uma lamparina. E foi ele que aquela beleza tocou, ainda que distante. Distraíra-se, vendo a menina percorrer o chão fofo que acabara de revirar, sem notá-lo em seu caminho. Seu rosto enrugado e marcado pelo sol, as mãos grandes e ásperas, mas quase incansáveis no remexer do solo. A enxada apenas não removeria as pedras e ervas.

E do sorriso dela, tão frágil e belo, vinha a ele a vontade de também sorrir. Ali, acocorado por sobre a terra, apoiava os antebraços sobre os joelhos e admirava, descansando os braços para cansar a alma. Quase sorria, ele também.

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Parte I de III.

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Chiaroscuro

É curioso. Você está caminhando pela rua e ouve uma música dançante. Parece que parte de você ganha vida própria, para balançar um pouco que seja. Faz parte da cena: música boa quer remelexo. E mesmo não sabendo o que é bom pra você, vai dar pra descobrir.

Linguagem corporal. É o que nos entrega sem querer. Cretina. Quem anda te lendo? Quem me lê, assim, que anda por cada entrelinha minha? Uma pessoa certamente especial, garanto. Vê e viu o meu balanço, percebeu onde, como e pra que sons eu danço. Me desvendou à primeira vista, pra me desarmar em segundas intenções. E, assim, nunca nos enganamos.

Muito menos naquela noite… os olhares se encontravam, malícia de ambos os lados. Era outra dança, eram muitos outros sons. Ela achou silencioso demais, até perceber como aquilo tudo mexia comigo. As mãos percorrendo a pele escura, agarrando aqueles quadris perfeitos. Respirações ofegantes, gemidos hora de dor, hora de prazer.

Era tudo nosso, ali, e me entreolhava como quem quisesse mais. Queria sentir-me mais, por cima de si e me puxava sem mover um dedo. Os lábios que sempre me enlouqueceram, o brilho no olhar. Eu ofegava. Ela deliciava-se… e ali, entre nós, uma escultura em ébano se desfazia em êxtase.

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Refletir-se

E o mundo me corre por entre os dedos, toma o vento. Vira mundo novamente, porque fora do meu controle. Adoro. Abro os braços e caio. Eu poderia gritar, mas só sorrio.

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bato com o pé 
e poderia gritar
mas só me calo


falling dream, de ~C0UG no deviantART.

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Ca-ca-ca-cara de quê?

É tenso. Você está correndo pelas decisões que precisa tomar. Tem certeza de que não pensou o suficiente naquela última jogada, mas tem a mesma certeza de que não haveria tempo pra isso. Resta-lhe aquele borrão de mundo que passa batido, pra onde quer que se olhe.

Começou como um blefe. Nada complicado de se fazer, quando se tem poucas fichas à mesa. Difícil não suar, numa hora dessas. Cinqüenta a cinqüenta, sabe? Risco escroto, calculado assim… frio. A cabeça estava entrando no esquema pra pensar desse jeito, sem você nem notar. Números, em tudo o que se vê. E cada escolha deixa de ser “aposta” pra virar “operação”. Eufemismo estúpido.


Cards, de ~JohnnyP3 no deviantART

Mas foi blefe só até a virada. Ali, dois viraram três e a meia chance disparou. Ainda não era tudo, mas virou muita coisa. A corrida desabalada virou impulso para cada nova decisão. Você não pensa o suficiente porque, no fundo, não precisa. Ali, pensar seria ter medo demais, por estar tão longe.

Tudo”. Acabou de sopetão, com o barulho das fichas indo pro meio da mesa. Todos ainda em jogo. Todas as cartas abertas, menos uma… as pernas enfraqueceram, por um instante. Chronos tinha a melhor mão e, ali, estava valendo tudo. A tríade sempre foi uma “operação” traiçoeira. Que perfeito que nada, número amaldiçoado.

Uma eternidade, até o river… percorrendo os segundos antes da última chance. “Que seja”, você pensa. “Pode vir”. Treme, quando ela chega. “Fullen, valetes com quatros.”

E o impostor vive para ver mais um dia.

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Simpatia pelo…

Eu sou o incomum, o diferente, o novo. Eu sou mais que meia dúzia de contestações, fui uma das primeiras. Eu sou o surto do filho, explodindo até o quarto sem bater a porta. Eu fui essa porta, abrindo para mil caminhos. Fui a mão e o punho, hoje sou outra dor e talvez um punhado de sorrisos… todos sádicos.

Sou o leito de seu salgado pranto, percorrendo as paisagens insólitas da realidade velada, até o lago das almas. Sou o vento de um rasante da sanidade alheia, brincando de errar o chão. Percorro o calor corado da alva face do mundo, despencando de olhares sem alento.

E no fim de tudo, sou o tolo. Me faço bufão. Contesto a lógica, aquebranto a razão. Despenco-me em mil pedaços, cara no chão. Sou fruto e flor de rimas, métrica e perdas. O percentual de um desvio-padrão torto e sem sentido para linguagem alguma. E quem há de dizer que não é esse o momento mais importante?


jester, de ‘aeterne, no deviantART.

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Pq é 11/01, mas tá quente pra burro…

 
Há 28 anos, às 18H15, o Universo pode ter cometido um grande erro. Eu só tô tentando acertar tudo, pelo caminho.

Moral do dia: “O tempo não é eletivo”. A regra é curtir muito, o dia inteiro, povo! Mesmo sendo segunda-feira.

Valeu por mais um ano.

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Orgásmico

- É simples… se chamassem de Ponto Grafenberg, soaria feião… tem que ser algo sensual, saca?

- Não, não saquei… nunca achei letra nenhuma sensual, na verdade.

- Nem o “S”? Pq tem curvas, soa interessante…

- Cara, você tem algum problema… tá falando em transar com o alfabeto, agora!

- …  mas foi você quem lembrou do G. Só isso.

- Esquece o G, então.

- Tá bom. Mas como eu vinha dizendo, a gente tava no cinema e aí ela…