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segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Expectativas – Prólogo *páginas de um diário*

A paisagem era estranha. Aquela trilha tão larga, ladeada e recoberta de pedras que soavam às paredes do monte escavado cada batida de seus cajados, no chão. O ar úmido, quente, que lhes grudava as vestes na pele e parecia fazer pesar mais o final da longa jornada. O rapaz mais jovem, à frente, seguia com ar de certa resolução ao rosto. Os dedos calejados tentavam ajeitar uma mecha encaracolada para fora da testa, mas podia sentir os cabelos gotejando pelas laterais do rosto. Por um momento, lembrava-se das lições de sua infância.

- Parece o inferno… – Comentava, olhando por sobre o ombro para seu ajudante, um homem já um pouco mais velho, de pele clara e com as primeiras marcas da idade surgindo aos cantos dos olhos.

- O Hades em nada se assemelharia a isso, Lecrino. – A voz era grave e austera, como sempre, mesmo com a respiração entrecortada pelo esforço daquela última subida. – E mesmo que fôssemos descer até lá, eu não teria dispensado o carro de boi que seu pai nos ofereceu.

- Hahahahahahahahahaha! Não seja tolo, homem. Nossos bois fazem bem mais por todos nós onde estão, em seus pastos e nos arados. E tivemos carona por mais da metade do caminho, afinal. – Ele voltava a apertar o passo, agora que tinham chegado ao final da última ladeira. Podia sentir o calor aumentar, só de observar o castelo pela primeira vez.

O entardecer espalhava seu alaranjado pelo vapor das altas torres da imensa construção. As muralhas de pedra e ferro se projetavam em tonalidades variadas, pontuadas a cada 200 metros por algum artefato de guerra que Lecrino esforçava-se para lembrar-lhes os nomes, às vezes em vão. Notava cada um deles como grandes bestas debruçadas por cima das balaustradas, como se prestes a saltar, garras afiadas, na direção de qualquer força opositora que se aproximasse.

- Nossa… – Ele não conseguia evitar a pausa na marcha, ao que se dava conta de finalmente estar ali. Ao longo dos anos, deixara a fazenda da família para conhecer pequenas cidades mercantes, portos, mas não aquilo. Nem mesmo a visita à Capital Leste, Kayern, com suas impressionantes máquinas a vapor, o havia preparado para aquilo.

- O carvão das minas sob as colinas, ao pé das montanhas gêmeas, ergueu tudo isso. Longa vida ao Rei. – Erimath, o ajudante, deixava escapar, com certo tom de ironia. Não suportava a coroa, muito menos seus nobres. Fôra versado em todos os protocolos da côrte, para honrar a tradição de gerações servindo à alta nobreza. No entanto, estava ali ao lado de um filho de
fazendeiro, como seu pupilo. E orgulhava-se mais disso do que das “conquistas” de seus antepassados.

- Não seja turrão, meu bom homem. Nossos ancestrais teriam orgulho de ver-nos ingressando o Palácio pela porta da frente. E é o que pretendo fazer. – A ansiedade transparecia à voz do jovem. Uma das mãos apoiada ao cajado enquanto a outra percorria as vestes até a pequena gaiola de metal que pendia de sua mochila.

Tinha certeza de que o Rei quereria vê-los, os três.

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Aproveito o post, ainda, para agradecer por mais uma condecoração dada a este Palácio, dessa vez pela amiga Tyr:

7 comentários:

Tyr Quentalë disse...

Selo merecido!
Quanto ao texto, você tem tornado seus textos instigantes, deixando um gosto de quero mais. O cenário abraça a leitura, o mistério cerca as personagens e a curiosidade sobre o que há na pequena gaiola, apenas me fez desejar pelo próximo capítulo. Ainda espero que vc chegue ao seu livro solo, meu caro Troll.

Anônimo disse...

Adoro esses textos que nos levam a outros mundos. Conheço um moleque que, se você continuar, e fizer um livro, vai devorar! :)

Beijoca, nino!

E o selo é "da hora"!! :)

bete disse...

olha conheço mais um, mais ou menos da mesma idade do seu...

Fernanda Toledo disse...

É fascinante como a moldura deste outro universo nos acolhe tão bem quanto as personagens.
Encantada e curiosa para uma continuação...



Parabéns pelo selo!Merecido!

beijos, caro Troll...

Anônimo disse...

TYR:
Quem sabe isto aqui não seja um "primeiro passo definitivo", né?

MAMA & IARA:
Seria ótimo já contar com leitores tão importantes! *rs*

FERNANDA:
Fico feliz em instigá-la e ficarei mais ainda em continuar, caríssima.

Macaires disse...

Belíssima narrativa! Pude me transportar, através da leitura, para o espaço que criaste! Os bons textos têm esse poder!

Um beijo!

Anônimo disse...

MACAIRES:
É um prazer levá-la, caríssima.