Bem-vindos à nova dimensão... seqüenciador de sonhos online.

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Três ao cubo *do matemático*

- O quê você acha?

Ela observava atenta, mas com aquele ar distante que sabia que o deixava apreensivo. Parecia não ter ouvido a pergunta e por um m0mento ajeitava os cabelos, como se deixá-los cobrir os ombros não fosse artimanha de sedução. Mas continuava olhando, sem nada responder.

- Eu acho que ficou legal… bem a sua cara, mesmo.

Os olhos sagazes encontravam os dele com o firme tom de “e como é a minha cara”. ao que o rapaz por um momento quase se acanhou, mas em seguida firmou os pés como quem permaneceria resoluto, em sua posição. Ela riu, talvez da empáfia.

- Sei lá, tava a fim de demonstrar isso, de fazer algo e… – calou-se, ao que o dedo dela lhe tocou os lábios.

- Cala a boca e me beija?

E ali, no silêncio da apreciação, houve o primeiro beijo. O universo explodia, antes de começar a se expandir.

 
Fractal, de ~ZeonFlux no deviantART.

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Culpa de quê? *berram os prisioneiros*

Culpa do crime,
culpa do ato,
culpa do erro,
culpa do fato.

Culpa da gula,
culpa da fome,
culpa da infâmia,
culpa da morte.

Culpa da falha,
culpa do engodo,
culpa do roubo,
culpa do engano.

Culpa até da culpa,
culpa da inveja,
culpa da vida,
culpa até da alegria.

Culpa de ser,
culpa de estar,
culpa de poder,
culpa de parar.

Crime, ato, erro, fato…
Gula, fome, infâmia, morte…
Falha, engodo, roubo, engano….
Culpa e inveja. Vida e alegria.

Ser, estar… poder parar.

E eu que só queria comer um bolinho.

"Alô, Troll? Aqui é a sua criança interior. Eu fugi e acabo de assaltar uma loja de bebidas!" *sirenes* "Opa, preciso ir!"

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Aniversário *sem velas acesas*

- Taí... um ano e nem parece. Dá pra voarem mais 10 desses, por nós. – Ele falava em um tom quase de nostalgia, com aquele jeito agradável de manhã fria. – O resto a gente curte, leva, reacende... melhora. Sempre melhora.

- Do quê você está falando, hein? – Ela trazia a impaciência de quem aguardava o próximo movimento, na voz. – Parece que às vezes você se perde em alguma coisa e sai daqui.

Ele apenas sorria de volta, com o jeito calmo que lhe era incomum. – Não se lembra? Ou não quer lembrar? – A alfinetada vinha bem do jeito que ela esperaria, dele. Continuava muito calmo, apesar de tudo. Era perturbador, por si só. – Tô demorando, não é?

- A gente um dia vai cronometrar. Aí já era pra você. – O deboche era típico, enquanto observavam o imenso tabuleiro abaixo deles. Éter criara a luz para que seus irmãos percorressem aquelas linhas em seus impulsos de criação. Érebo e Nix delineavam cada curva do mundo. Tudo aquilo que surgira do Caos, em uma harmonia estranha, em partes dissonante.

- O que acha? – Cronos percorria o mundo novo com jeito quase de criança, sem saber que jamais o seria novamente, e ela observava-o, quase ignorando as peças que Uranos movia. – Vamos, então. Depois sou eu que me demoro.

Ela observava e ria. – Jura? – E de um movimento, tomava-lhe a Rainha. – É apenas justo, não?

- O que quer que eu diga? – Observava o tabuleiro, incrédulo.

- Você me diz feliz aniversário. E eu… – Abria seu sorriso mais sacana. – … te digo xeque-mate.


Gaia, de ‘CrisVector no deviantART.

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Pq hoje faz um ano de algo muito especial e nada datado. Nem com hora ou dia pra acabar.

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Expectativas – Prólogo *páginas de um diário*

A paisagem era estranha. Aquela trilha tão larga, ladeada e recoberta de pedras que soavam às paredes do monte escavado cada batida de seus cajados, no chão. O ar úmido, quente, que lhes grudava as vestes na pele e parecia fazer pesar mais o final da longa jornada. O rapaz mais jovem, à frente, seguia com ar de certa resolução ao rosto. Os dedos calejados tentavam ajeitar uma mecha encaracolada para fora da testa, mas podia sentir os cabelos gotejando pelas laterais do rosto. Por um momento, lembrava-se das lições de sua infância.

- Parece o inferno… – Comentava, olhando por sobre o ombro para seu ajudante, um homem já um pouco mais velho, de pele clara e com as primeiras marcas da idade surgindo aos cantos dos olhos.

- O Hades em nada se assemelharia a isso, Lecrino. – A voz era grave e austera, como sempre, mesmo com a respiração entrecortada pelo esforço daquela última subida. – E mesmo que fôssemos descer até lá, eu não teria dispensado o carro de boi que seu pai nos ofereceu.

- Hahahahahahahahahaha! Não seja tolo, homem. Nossos bois fazem bem mais por todos nós onde estão, em seus pastos e nos arados. E tivemos carona por mais da metade do caminho, afinal. – Ele voltava a apertar o passo, agora que tinham chegado ao final da última ladeira. Podia sentir o calor aumentar, só de observar o castelo pela primeira vez.

O entardecer espalhava seu alaranjado pelo vapor das altas torres da imensa construção. As muralhas de pedra e ferro se projetavam em tonalidades variadas, pontuadas a cada 200 metros por algum artefato de guerra que Lecrino esforçava-se para lembrar-lhes os nomes, às vezes em vão. Notava cada um deles como grandes bestas debruçadas por cima das balaustradas, como se prestes a saltar, garras afiadas, na direção de qualquer força opositora que se aproximasse.

- Nossa… – Ele não conseguia evitar a pausa na marcha, ao que se dava conta de finalmente estar ali. Ao longo dos anos, deixara a fazenda da família para conhecer pequenas cidades mercantes, portos, mas não aquilo. Nem mesmo a visita à Capital Leste, Kayern, com suas impressionantes máquinas a vapor, o havia preparado para aquilo.

- O carvão das minas sob as colinas, ao pé das montanhas gêmeas, ergueu tudo isso. Longa vida ao Rei. – Erimath, o ajudante, deixava escapar, com certo tom de ironia. Não suportava a coroa, muito menos seus nobres. Fôra versado em todos os protocolos da côrte, para honrar a tradição de gerações servindo à alta nobreza. No entanto, estava ali ao lado de um filho de
fazendeiro, como seu pupilo. E orgulhava-se mais disso do que das “conquistas” de seus antepassados.

- Não seja turrão, meu bom homem. Nossos ancestrais teriam orgulho de ver-nos ingressando o Palácio pela porta da frente. E é o que pretendo fazer. – A ansiedade transparecia à voz do jovem. Uma das mãos apoiada ao cajado enquanto a outra percorria as vestes até a pequena gaiola de metal que pendia de sua mochila.

Tinha certeza de que o Rei quereria vê-los, os três.

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Aproveito o post, ainda, para agradecer por mais uma condecoração dada a este Palácio, dessa vez pela amiga Tyr:

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Chimeras em papel *e algo mais*

Era noite. O cheiro do salão era um misto de suor, medo e tensão. Todos se entreolhavam e percorriam as bainhas de suas armas com os dedos quase trêmulos, sentindo o couro frio, sem oferecer qualquer conforto. Suas lâminas ainda guardadas, para que o brilho não lhes entregasse a cobertura, naquelas sombras. Em alguns, a expressão apenas de medo. Em outros, um tipo de ansiedade quase suicida. Os que queriam que acabasse logo.

O primeiro sinal lhes roubava o fôlego e aumentava o silêncio quase opressor. Estava chegando. Tanto terror antes e em nada se comparava ao frio que agora lhes tomava os ossos, ameaçando congelar cada um daqueles guerreiros bem onde estava. Um som gutural, um rosnado baixo, anunciando que a besta aproximava-se. Em poucos instantes, naquela imensa nave, faltaria ar não apenas pelo respirar arfado de cada um… só agora percebiam o real tamanho do que haviam decidido enfrentar.

Os olhos dourados emitiam o brilho agourento do entardecer. Todos aqueles bravos desembainhavam suas armas e disparavam em carreira furiosa, como se em direção à glória ou à própria morte. Em cada grito, o desespero de ir lutar contra algo maior que a vida. E nenhum daqueles que mergulhou nas presas do desafio deu qualquer segundo de atenção às próprias costas… ou ao não-tão-bravo que fugira.

Ficaram os que não esmaeceriam, pena em punho. E, cada um com sua folha, começaram a escrever. Sua missão: matar a fera em duas horas.

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Atenção, senhoras e senhores, e perdoai a mim, o tolo, a quebra ligeira do protocolo. Ouvi e atentai ao que o nada ilustre bufão vos traz. Pois justiça alguma haveria não decidisse o Rei, em revelia, vir honrar ao próprio olhar.

Pois ouçam, súditos e visitantes, e saibam de outros reinos que os olhos do Troll agradam. Há sempre o que ler, o que descobrir, o que revelar. E por mais que a todos homenagear seja impossível, vem este selo indicar quem o Rei ache (e aqui, perdoai a rima tosca) imperdível.


Alice Lupin
Caldeirão da Bruxa
Casa da Sisa
Devaneios de um qualquer
Inspirar-Poesia
Macaires