Bem-vindos à nova dimensão... seqüenciador de sonhos online.

sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Ave... *à lareira*

Queimava. Sim, aquele fruto da flecha de Eros deixava-se arder com uma intensidade tão grande que saíra de controle e agora era como se essa o consumisse. Tolo que é o amor, não percebeu que crescia desordenado e agora tentara englobar o mundo, e por isso seu próprio calor o fazia gritar, dentro daquele peito, sentindo-se desfazer como se o lamber das chamas o corroesse. Sentia que poderia perder-se em cinzas e isso o apavorou. O menor sopro, depois, e se perderia no vento.

Estúpido amor, perdido à ânsia de abraçar o mundo, quis ser tudo, quis tornar-se único àquele coração e agora ardia, cauterizando a certeza de que jamais seria tão grande assim. Da queda ao chão, o grito derradeiro, já sem asas para abrir e voar, sentia o cheiro da própria morte tomar-lhe as narinas... a mão estendida... os dedos se contorcendo. Queria de novo morder daquela maça, provar daquele beijo de sol, do beijo de chuva... ali, sentia-se desfazer nas cinzas.

Toda a angústia se abateu, quando não passava daquele montinho enegrecido, que em nada lembrava o sentimento que já fôra. Não havia mais dor, como não havia mais nervos ou mesmo coração, para senti-la. Não havia mais dor, como não havia mais peso. Quis chorar sem ter olhos ou lágrimas, e então sentiu o que se aproximava. Fosse o vento, fosse o sopro, estaria para sempre perdido, espalhado, e esse pensamento trouxe-lhe novo terror, como somente a massa do nada, da inexistência, poderia trazer. Ali, a um passo do mundo perdido do eterno ébano. Esquecimento. No fundo, sabia que o merecia. Que seu tolo egoísmo precisava ter um preço. Sempre tivera a certeza de não poder ser dono daquilo que cobiçara demais.

Não era o vento... duas mãos vinham juntar toda a fuligem, a poeira, a dor. Vinham proteger aquele ardido sentimento, contra o sopro, amontoando pedaços, fibras e grãos em um pequeno montinho, cuidadosamente.

- Eu tbm quero isso, seu bobo. Te bastar. É tão egoísta.

Àqueles sussurros, um sopro tão diferente o viera despertar. E ali, entre aquelas mãos, surgia a chama renovada. Daquelas cinzas, erguia-se algo que aquele peito até então desconhecera, na tolice de crer que tudo já compreendia. Respirava fundo, como se de volta ao primeiro inspirar de vida. Renovara-se até mesmo de antigas marcas. Ali levantando-se para enfim abrir os olhos e romper limites tantos.


The Phoenix, de ~Suirebit, no deviantART.

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Feliz... *despencando do trenó*

Meu presente de natal sangra. É um fato. Fui olhar na sacola e lá no fundo tem algo que ainda não deram, que ninguém ganhou. Em meio a tantos pedaços de carvão, algo sangra, pulsando marcas, feridas e cicatrizes, derramando-se pela fuligem. Aguardando, talvez, alguma criança má. Escorre vermelho forte, cheira a ferro e coagula em linhas e palavras, aqui. Meu presente de natal é belo, em sua dor, e se mostra vivo pelo tempo, se faz presente em suspiros, bate as lembranças de mais um ano.

Como ficou esquecido tanto tempo? Por quantos natais estava ali, no fundo, preterido a presentes e embrulhos belos e cheios de carinho? Não importa, realmente. Pulsando assim, mostrou-se uma vez mais, empurrando o negrume para os lados. Sujo, enegrecido,  mas recusando-se a permanecer dormente. Fiz pra ele um embrulho modesto, amassado aqui e ali, sinto que cortei pouco desse papel prateado discreto, mas não me importa. E mesmo envolto, sob a árvore ele vaza sujeira e as hemáceas, cansadas de tantos dias correndo por sob a pele.

Admito, não o imaginava tão grande, muito menos tão marcado e calejado. As batidas que o tempo cicatrizou ainda por vezes saltam aos olhos e parecem tão canhestras. Mas meu presente de natal decidiu pulsar justo agora. Vem carregado de uma nova energia, de sorrisos, de ansiedade. Vem bater adolescente, na expectativa só possível à ingenuidade que há muito desconhecia, de crer em sonhos uma vez mais. Traz em si a esperança infantil, a impulsividade, a promessa de um viver intenso, na única forma de ser pleno.

Meu presente de natal é de comer, devorar, cravar presas, grande demais para essa minha ceia.

Divide comigo?

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BOAS FESTAS, do Palácio Elétrico.

sábado, 20 de dezembro de 2008

Sonha o Troll *do poço amaldiçoado de memes*

O Fabio me passou um meme/maldição, mas mais do q isso, um desafio. Eu teria de escrever sobre 8 sonhos meus, mas me avisou q eu - especificamente - NÃO poderia falar de sexo. Sim, tive q me obrigar a pensar em sonhos menores e mais mundanos, mas vamos lá.

1) Terminar e publicar meu romance ufanista pós-apocalíptico de conscientização ambiental (complexo, não?);

2) Meu canto, minha casa, um santuário fora do mundo para me esconder com quem amo;

3) Conhecer o Japão, a China, a Índia, a Grécia, o Egito e os lençóis maranhenses (rs);

4) Trabalhar como dublador (esse não vou realizar, certamente, dado que precisaria de uma licença de ator) ou radialista;

5) Europa, América do Sul e um terceiro continente à escolha (sempre a Oceania, povo). Sim, eu quero dominar o mundo;

6) Nunca ficar velho e chato (The name's Pan, Peter Pan);

7) Encontrar a pergunta cuja resposta é 42 (ou seja, nunca deixar meu lado geek morrer de vez);

8) Ser alguma diferença na vida daqueles que a são na minha. Tocar as pessoas de uma forma duradoura ou para um breve sorriso que seja, mas deixar algo de mim nelas. Sanar o mundo, um olhar por vez, cultivando sonhos por vezes tão podados, mas que sempre puderam ser regados por um simples gesto de encorajamento. Ser, eu mesmo, o sonho de alguém especial, que sabe que está nos meus, a cada segundo. Cumprir uma vida plena, à qual a liberdade é o único caminho, mas ser livre, ter as asas abertas ao lado de quem compreende esse vôo meu. Hoje nosso.

 
Strawberry dream, de ~BlackGlamour no deviantART.

Meus “Convocados”:
Vou me obrigar a crer que eu tenha oito leitores e que estes se interessarão em fazer. Eu não passo maldições adiante. Mas quem decidir fazê-lo, comente aqui, q vou adorar ler.

Regras do Meme:
- Escrever uma lista com 8 coisas que sonhamos fazer;
- Convidar 8 parceiros(as) de blogs amigos para responder ;
- Comentar no blog de quem nos convidou;
- Comentar no blog dos nossos(as) convidados(as), para que saibam da “convocação”;
- Mencionar as regras.

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Hina-nagashi *flutuando rio abaixo*

Era um boneco de corda, como vários outros. Havia pedido para não ser títere e assim fora se livrando dos fios do mundo, ainda que jamais de todos. Agora, mantinha suas engrenagens rodando sob chaves bem específicas. Dormia para enrolar as molas das pernas, dos braços. Acordava para enrolar as da mente, que no sonhar iam sempre se soltando demais. Eram cordas longas de se dar, mas ele achava tempo para todas elas. Todas menos uma.

De vez em quando, no espelho, aquela pequena fresta lhe chamava a atenção. Deslizava os dedos de resina e metal pela placa desgastada do peito e sentia aquele encaixe hexagonal, vazio, não maior que a ponta do mindinho, como se esperando algo. Ali já houvera dor, mas sem qualquer chave para dar corda, era apenas um vazio. Todo o resto funcionava, o boneco não precisava de mais do que isso, para existir e seguir seu caminho. Mas às vezes aquele vazio virava falta e ele nem sabia de quê, exatamente.

Mais jovem, havia aquela chave, bem ali, e todos os dias era como se dar corda no peito desse conta de todo o resto. Corria, sentindo aquela mola imensa impulsionando tudo, uma liberdade de não ter que ficar parando para enrolar só braços ou pernas. Mas era mais que isso, também. Ele já nem lembrava, mas seus olhos ganhavam uma luz peculiar. E por trás dessa, via um mundo de cores mais vibrantes, de momentos verdadeiros. Também não lembrava que por vezes essa mesma luz o ofuscara.

***

Ela era linda. Gozava intensamente, da mesma estranha liberdade, tinha as feições esculpidas em algum âmbar tão polido e macio, um alabastro com todos os seus pequenos veios, e ainda assim perfeito. Eram os dois de corda. Com ela, o boneco descobrira como era ter quem mais girasse aquela chave. Além dos prazeres, do desenrolar de molas de ambos os lados, havia o cuidado de apertar-lhe o peito, de alimentar aquela liberdade. E ele, talvez tolo, quis crer que havia algo a ser feito. Trocado. E assim ela, tão tola quanto, viu-o tirar aquela peça de seu encaixe e tirou a dela. Trocaram chaves, em uma promessa.

Por muito tempo, os dois se cuidaram e cultivaram aquela promessa, um com a chave do outro, buscavam-se e deixavam-se apertar o peito um do outro. Era uma carícia, algo que compartilhavam, muito além dos olhares e das palavras. Era algo q tinham apenas um com o outro, ninguém mais podia girar aquela mola, pois cada um tomara do outro o meio. A liberdade ainda existia, giravam-se para seguirem cada um em suas batalhas, em seus afazeres, e se viam novamente ao fim de cada noite, ao enfraquecer daquela corda, e novamente acariciavam-se naquele ato tão natural aos dois.

Até que ele acordou sem encontrá-la. Sem saber o que teria acontecido. Ela se fôra. E com ela, sua chave. Desde então, ele de vez em quando tocava aquele encaixe, vazio. A chave que ela deixara não servia, rodava frouxa ali. Não era a dele. Até o momento que desistiu de tentar. Passou a dar corda em todo o resto. Não era em nada como lembrava-se de antes, nem como era com ela. O fazia não por ímpetos de uma liberdade ingênua, mas para continuar sendo. Aos poucos, descobrindo porque tantos aprendiam a viver desconfortáveis com as próprias engrenagens.

***

Assim, desistindo daquela mola, descobriu o que é crescer, realmente. Boneco de corda, invejava os títeres que moviam-se em seus fios, sem molas, mesmo que à mercê de vontades alheias.

Até ela, outra... até aquela chave que viera mover-lhe o peito, uma vez mais. Até reaprender um impulso sem limites. No encaixe perfeito das peças, os dois descobrindo um. Não eram as que lhes haviam roubado. Mas ali, pouco importava.

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Às sombras *suspiros na noite*

Insanos.
Éramos dois, ali
num canto escuro do mundo.
Mas éramos muitos olhares,
toques, sabores, confissões.
Nos desfazíamos em mil coisas
naquela entrega sublime ao momento.

Do impulso incontido
veio seu corpo explodir em minhas mãos.
Mexia, entre a fuga e o desejo
seu cheiro, forte, me inebriando
seus suspiros vindo inchar-me o sexo.

De um olhar,
misto de ansiedade e desafio,
a mesma idéia tomando seus olhos.
Sem mais pudores, sem temores
encontramos as sombras,
fizemo-nas manto, cobrimos os corpos.

Minha, sim, minha completamente.
Você me engolindo, fazendo-me seu.
Na noite, ali,
o silêncio de gemidos abafados
eu respirava fundo, você me aquecia.
Na maciez da sua pele, cravei garras
você abrindo, invadida, violada.
Impalada por meu desejo,
preenchida por meu prazer.

Explode o sexo em branca entrega
tão belos ,seus gemidos contidos.
A parca luz te traz toda à tona
os dois provando esse prazer,
embalados na escuridão.

A noite chuvosa, deixando-se escorrer,
cúmplice do gozo.
Insana rendição.


Desire, de ~water-on-fire no deviantART.

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Decisão *impulso, do alto do penhasco*

Ele não adentrava aquela floresta com a intensidade com qual costumaria correr, ao lado de alguém como ela. Não... ele caminhava com cuidado, sentindo que ali não tinha espaço para abrir suas asas completamente. De certa forma, achava que crescer tanto, nelas, poderia parecer um desrespeito ao local, às árvores que se avolumavam ao redor. Aquele lugar era delas. Delas e dela.

Seguia a figura à frente, por vezes se pegando em admirar aqueles cabelos avermelhados, ao reflexo da pouca luz de um céu cinzento, que vinha ter com a pele, por entre as folhas. Para estar ali, ele se desarmara, mas não se sentia desprotegido. Havia algo do olhar da bruxa que lhe mostrara não haver perigo. De alguma forma, ele já havia começado a sentir o que ela vinha lhe ensinar. A pele formigava por dias e o anjo jamais perdia a energia daqueles toques. Estranho. Pois quando estava à presença dela, percebia tão claramente que os dois trocavam fagulhas, pelo ar.

- Saudade?

Um sorriso despontava, contra a sua vontade, enquanto ele respirava fundo e olhava em volta, uma vez mais. Mas era aqui q ele se deixaria tocá-la de novo, então. Suas mãos ávidas buscavam aqueles cabelos e deslizavam toques pelo rosto macio. Aquela pele que, de tão gostosa, acolhia os dedos, e não o contrário. O beijo explodia entre os dois e tudo por um momento parava. Tenso, ele demorava a perceber... mas aquele lugar dava espaço às asas. Como se as ávores se tornassem tbm parte delas.

- Tentando se controlar, de novo?

Ela olhava-o com aquele ar inquisidor capaz de fazer alguém confessar crimes que nem tivesse cometido. Mas ele sorria de volta, resoluto, e olhava fundo naqueles olhos, q iam mudando, sultilmente. "Nem um pouco. Só percebendo. Aprendendo um pouco mais. Quero mais." Aquela ambição a agradava, ao menos era o que entendia daqueles olhos tão escuros. Mal sabia q a agradava pela naturalidade com a qual soava. Como se ele voltasse, para clamar o que já era seu.

- Então se solta, vai... vem comigo.

No novo abraço, era como se o mundo se curvasse a eles. O rosto dela, com um brilho novo, intenso, perfeito, enquanto tudo perdia a importância, no turbilhão de duas vidas que buscavam a plenitude do caos. Unidas, enfim. Os temores já superados, o assombro ainda parte de ambos. Naqueles movimentos, havia uma troca sutil de olhares, por vezes espantados, por vezes momentos de descoberta. Tudo explodia, não parava. Ser intenso não por um breve momento, mas por tantos e todos. Só voltava a si já deitado sobre aquele corpo que o aconchegava, perfeito.

- A gente precisa ir.

Todo o tempo pesou a imensidão de seus segundos, sobre ele, e o anjo respirou fundo, recolhendo as asas. Vendo a floresta perder forma, rendendo-se às paredes, ao concreto, granito e aço. "Sim, vamos."

O banho, a pele tentando ser só pele, de novo. Mas ela já tornara isso impossível.

 
Earth warrior, de ~VaLerka-Ru no deviantART.

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Haikaipoemaprosa *insanos, dois*

Grandiosidade.
Quê espera o mundo de nós?

E isso importará?

Tolo, eu.

Não culpe o mundo por esperar isso de você
É verdade, pois está no brilho aos seus olhos
Está na força e intensidade de suas palavras
Além do primeiro segundo, muito fácil de ver.

Não tema jamais que eles lhe idealizem
Mas também não tema não estar à altura
Quem lhe vê que vem fazer essa escolha
Lhe ver pelo que é ou pelo que querem.

As suas expectativas serão apenas suas
Se exploda o mundo, por buscar a perfeição
Sempre se é perfeito nos braços que amam
Nesse encaixe de mente, olhar e corpos.

E por vezes se perco letrs
Se começo esquecer
faltarem palavrs
É pq hj
ou eu...

Respira, vai.

O fruto da tua desconstrução.
Pra reaprender contigo... da grandiosidade.

Fractal_art__No__86_by_electro_space
Fractal art No. 86, de ~electro-space, no deviantART.

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Bênção *à morte de Jocasta*

Em que termos existir?
No que temos de ser.
No que querem nos ver.
Nessa inação do agir.
Vai, corre e pula.
Rala-te essa areia.
E nem liga, ao sorrir.
Não se preocupa?
Não se assusta?
Te ensino a ler.
Me ensina a ver?
Vendo você cresce.
...

Me cega?


++ Halls of Blind +++, de *Haliestra no deviantART.

domingo, 7 de dezembro de 2008

Religare. *nos tremores das descobertas*

Ele saía do transe e a via, ali, observando-o com um olhar tão curioso. Havia sentado-se no cantinho, como se em respeito ao seu momento. Àquela meditação. Nada lhe perguntava, mas ele decidia, tolo, tentar explicar-se. "Retomando o controle. O equilíbrio. Precisava voltar a saber que meu corpo é meu e quem eu sou. Meditando."

- Medo de perder o controle?

A pergunta vinha com aquela pontada de alfinete, que só ela mesmo. "De não me achar de novo, depois."

- Medo de perder o controle.

Como afirmação, aquilo soava pior ainda. "E se eu me perco de vez?"

- Vc acha que precisa manter isso sob controle.

Era estranho... ela não o acusava de nada, mas ele se sentia acusado. Covarde, naquelas palavras. "E se eu te machuco?"

- Acha mesmo q eu libertaria isso de vc se eu não pudesse controlar?

Ele, ser mais idiota e ignorante do mundo. Ela o conhecia melhor do q ele mesmo. "Se eu esquecer tudo, pelo caminho..."

- Vc tem uma idéia errada, ainda.

O mais pretensioso e tolo dos homens. "Mas se eu esquecer, me ensina de novo?"

- Claro...

Finalmente descobria. Percebia que era verdade. Quando se olha para o abismo, ele fita vc de volta. Ainda conhece suas asas... mas por esse novo caminho, todo o resto ainda é arcano demais. Ser novamente vagante, só mais um pouco.

- Daqui, não tem volta.

Só então ele retomava o sorriso confiante. "Pra trás, eu já conheço de tudo."

Portal
Portal, de ~boyaka no deviantART.

Cova rasa *gravado à lápide*

O lugar era esplendoroso. Um verdadeiro símbolo de tamanha ostentação, em ouro e prata, ornamentado sob o trabalho de sabe Ele quantos pedreiros, marceneiros, artesãos e trabalhadores humildes. A nave gigantesca, à frente dos portões, coisa que me lembra cinemas antigos, as verdadeiras casas de espetáculos e entretenimento. Mas ali era bem mais solene. Nem um pouco sóbrio. Tudo com os tons da veneração que ao local era cabida.

Estavam ali, uma procissão de fé e dor - e me pergunto onde as duas se separam -, o terror de uma força à qual tantos se esforçariam em erigir aquelas paredes, funesta homenagem. Ali celebravam o medo, a miséria da existência, o pecado de viver. Ali, choravam o horror barroco de uma morte insepulta. Espiavam pela boca de um homem como se fosse janela, para saciar a curiosidade do que seria o céu, do quanto deveriam temer o inferno e quais as verdades do atormentador purgatório.

No auge de seus ritos macabros, canibalizam o Filho, todos provando uma mordida de sua carne enquanto seu líder lhe bebe o sangue, como se num ritual bárbaro para roubar a força de seus caídos. Constróem memórias de alguém que nunca existiu, provando que a morte é o maior dos perdões. A redenção dos erros terrenos. Suplício em pecado.


Cross, de ~cobaltglass no deviantART.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Bailando... *ao salão empoeirado*

Perdido, em meio aos acasos do mundo, um dia simplesmente deixei a chuva cair e comecei a dançar sob ela. As gotas pesadas do mundo finalmente correndo por sobre a pele, deslizando pelo tecido, pelos poros e pêlos, até o sujo chão de concreto duro. Confesso, não foi sozinho que aprendi a dançar. Acho que tal coisa seria impossível. Comecei tropeçando com quem também não sabia muito bem o que fazia e cada pisada era um suplício para ambos.

A verdade é que essa água pesa. Bate forte, tamborilando sobre a cabeça e os ombros, pesando às omoplatas e parecendo querer te fazer deitar. Mas um dia veio, como acho que a todos vem várias vezes na vida, uma vontade de tentar esquivar dessa precipitação, dançando. Foi tomando outras mãos e cinturas, pelo mundo, que eu decidi aprender. É tolo, eu sei... se nem guarda-chuva te mantém seco, com esse vento, fugir é inútil, mas no começo você tenta.

De mãos em mãos e toques em toques, aprendi que tem gente que não nasceu pra bailar comigo. Fato. Se essa dança é mesmo um construto, então há com quem não dê vontade de construir. Com quem você ensaia meia dúzia de passos, dois-pra-lá-dois-pra-cá, tum-tchi-bum-tá e nada. Alguns calos doloridos depois, a chuva está só mais pesada porque fica duro andar direito. Mas jamais me arrependi, realmente, de tentar.

Do mesmo jeito, tem quem dance certinho com você. É a naturalidade, a verdade em cada passo e um deslizar sincero. A pista te aceita, as gotas também. É como se junto àquele corpo, o mundo te deixasse ser leve, pra variar um pouco. Gente que te inspira, te ergue, acorda novos olhos e olhares. É aprender a realmente dançar, flutuando pelo salão que inunda de vida, problemas e ocorrências. A andar por cima dessas águas.

Mas sabe? Tem quem vá além. Quem te ensine que você nem precisava estar dançando, mas se vai fazê-lo, que seja por prazer, não fuga. As mãos que te guiam e se deixam guiar, alternando nos momentos certos. Fazem crescer até que o mundo seja um salão pequeno demais. Mas também entendem que às vezes é preciso diminuir. Caber. Respeitando a dor dos seus calos e o fato de que de vez em quando é bom dançar sobre os sonhos, mas (já disse Yeats) eles são frágeis e por vezes são tudo o que temos.

Até quem acha que não sabe ou não gosta de dançar de vez em quando se vê trilhando passos e valsinhas nessa pista. E nessas horas, é bom contar com certos mimos do universo e dançar por prazer. Quanto à chuva? Conhece beijo melhor do que o regado pelas nuvens?

we_dance___by_scarlet_dragonchild
we dance, de ~scarlet-dragonchild, no deviantART.

Ao meu mimo do universo. À mais deliciosa dança.

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

101 coisas sobre o Troll *no espelho*

Pq a vida tem dessas e eu não curto memes, tenho recebido cada vez mais deles. Assim, pra ver se as pessoas desistem, vim logo responder o maior e mais chato de ler, de todos. *gargalhada diabólica* Isso deu trabalho... e com certeza me traumatizou o suficiente para eu ficar muito tempo sem responder mais nenhum.

001 - Gosto de calculadoras que apitam... é como eu sei q apertei o botão.
002 - Guardo meu dinheiro na carteira todo ordenado, todas as notas na mesma direção e com a carinha voltada pra fora.
003 - Me sinto nu quando saio na rua e esqueço o celular.
004 - Tenho uma caneca de estimação, para o meu café. Ela é verde e ai de quem beber nela.
005 - Quebrei minha caneca de estimação, uma vez, e fiquei magoado por isso. Mas achei outra igualzinha, no dia seguinte, em uma lojinha.
006 - Gosto de dirigir mas não suporto buzina.
007 - Amo trabalhar. É patológico, eu sei...
009 - Tenho PAVOR de aranhas. Grito feito menininha.
010 - Sou um pervertido 80% do tempo... pq é preciso dormir os outros 20%.
011 - Muitas vezes tenho sonhos pervertidos, ao dormir.
012 - Que me perdoem as frígidas, mas sexo é fundamental.
013 - Fui o primeiro Dominador carioca a fazer uma cena pública com facas, em uma festa sadomasô (be afraid, be VERY afraid).
014 - Falando de sexo, gosto de Toddynho.
015 - Já fui muito vaidoso com os meus cabelos.
016 - Sou muito vaidoso com a minha barba.
017 - Esse olho aí à direita é meu mesmo. Sou vaidoso com meus olhos.
018 - Posso ir do mais egocêntrico ao fundo frio da comiseração pelas coisas mais idiotas.
019 - Posso ser ciumento... mas é algo que ninguém quer ver. Garanto.
020 - Sou uma pessoa muito paciente pra muitas coisas.
021 - Mas não suporto quem tenta me fazer de palhaço. Especialmente no trabalho.
022 - Toda manhã me fantasio de sério, pra ir trabalhar.
023 - Gosto do terno. Reclamo horrores, mas gosto.
024 - Já aceitei propostas que eu nem tinha certeza se poderia cumprir... mas sempre dei um jeito de cumprir TODAS.
025 - O que eu não sei fazer, aprendo. O que eu não aprendo, descubro quem faça.
026 - Sou uma negação com trabalhos manuais delicados, mas tenho boa coordenação.
027 -  Meus dedões dobram em ângulos e posições q deixam pessoas assustadas (e eu adoro).
028 - Odeio armas de fogo. Já passei horas com um revólver enfiado na boca, esperando os caras se convencerem q é preciso ser um idiota para se levar jóias e dólares pra uma casa de praia.
029 - Já apertei um gatilho contra uma pessoa, mas a arma estava descarregada.
030 - Sou extrovertido a níveis incomuns.
031 - Tem horas que eu deveria falar menos.
032 - Em qualquer lugar que chego, sou amigo de todo mundo em um raio de 20 metros à minha volta, em menos de 20 minutos.
033 - Tudo que eu fale sobre mim mesmo nesses 20 minutos é dúbio... todo o resto é real até demais.
034 - Já tentei gostar de cigarro.
035 - Gosto de fumar narguilé.
036 - Meu apetite funciona pra tudo, na vida.
037 - Cara de pau tbm vai longe, pra ajudar em certos apetites.
038 - Já fiz sexo a seis e foi interessante.
039 - Já fiz sexo a quatro e foi intenso.
040 - Já fiz sexo a três e foi épico.
041 - Já fiz sexo a dois e foi bom.
042 - Já fiz sexo a dois e foi ruim.
043 - Já fiz sexo a dois e foi ótimo.
044 - Já fiz sexo a dois e não estava lá, realmente.
045 - Já fiz sexo a dois e descobri que nunca tinha feito sexo, realmente.
046 - Sim, no meio disso teve tempo o suficiente pra me masturbar. Ah, adolescência! 
047 - Já fingi um orgasmo... e ela acreditou. (sei lá como! só sei q estava tão ruim assim...)
048 - Tenho PAVOR de qualquer DST.
049 - Tenho medo dos meus impulsos.
050 - Tenho ódio do meu orgulho, certas horas.
051 - Sou um retardado com pecinhas de Lego. É sério, brinco horrores, faço até onomatopéias com a boca.
052 - Adoro vídeo-game. NES, SNES, N64, GameCube, Wii... Yah, I´m Nintendo's bitch.
053 - Desde os 12 anos, adoro Role-Playing Games.
054 - Desde os 23 anos, comecei a ficar sem tanto tempo pra Role-Playing Games.
055 - Chamo meus pais de "doutor" e doutora", com mais naturalidade do que "pai" e "mãe".
056 - Não gosto de quase nada o que escrevo, 48 horas depois. Revisar é reescrever quase do zero.
057 - Tenho três textos publicados em coletâneas de novos autores.
058 - Já plantei uma árvore, estou escrevendo um livro e o filho eu posso fingir que crio o dos outros?
059 - Eu assistia Carrossel, no SBT, e quase chorava certas horas. Sempre achei o Jaime Palilo um gordinho fanfarrão demais. Assisto Chaves até hoje, ALGUM PROBLEMA?
060 - Não gosto de cachorros, adoro gatos, já tive uma tartaruga e um papagaio e tenho um felino, o Pooka.
061 - Gosto que todos os meus posts tenham pelo menos uma imagem:
neomancer
062 - A foto acima tem uns 6 anos e eu continuo com a mesma cara, só que mais magro.
063 - Eu tenho uma gaveta trancada, no armário, que um amigo apelidou de "O Albergue".
064 - Tenho altas fantasias com a Angelina Jolie... mas ela anda ficando magra demais.
065 - A primeira banda a mexer comigo foi Roxette. Eu acho q queria muito aprender inglês, só isso.
066 - Queen comanda, mas sem o Fredinho é mó fake.
067 - Respeito muito a Dra por ser uma excelente administradora sem nunca ter tido uma educação formal na área. Respeito muito o Dr por ser tão apaixonado pelo seu trabalho, ao ponto de estar quase se matando de tanto trabalhar. Tenho medo de me matar de trabalhar, embora goste muito. Ah, respeito muito o meu irmão pq ele tem um irmão muito foda!
068 - Sou modesto, juro... quando estou dormindo.
069 - Sou capitão da brigada de incêndio do prédio onde trabalho. Não, não sei onde o cara do treinamento estava com a cabeça.
070 - Decidi estudar Economia pq são eles os profetas da nova era e acho essa pretensão imensa muito foda. Sou desses que acham que a "mão invisível do mercado" é coisa de ficção científica, aliás.
071 - Desde criança eu crio altas explicações e teorias da conspiração tentando entender pq o chocolate Lollo virou Milkybar. Poderia fazer um meme desses só de coisas sobre o Lollo.
072 - Queria um exército de robôs gigantes sob meu comando, só pra tocar o zaralho por aí.
073 - Tinha uma aposta com um amigo de infância, em que o primeiro dos dois a dominar o mundo ganhava um dólar. Paguei a aposta no dia que o filho dele nasceu.
074 - Quando eu gosto de um filme, posso vê-lo quantas vezes der na telha, não enjôa.
075 - Mesmo q eu goste DEMAIS de um livro, não curto ficar relendo... a menos q seja O Senhor dos Anéis.
076 - Já trabalhei com assessoria de imprensa na área de eventos culturais e amava o serviço, mas odiava a compania.
077 - Eu já quebrei tantos ossos, tantas vezes, que cheguei a me acostumar com o gesso como parte do corpo, uma época.
078 - Não reconheço as cantadas que levo. Um fato. Sempre acho que é só uma gracinha inócua e ainda corro o risco de sair do lugar pensando "ah, se ela me desse bola".
079 - Talvez por esse motivo eu seja tão direto ao assunto, com essas coisas.
080 - Não sei sambar. Nem tento, q é trágico.
081 - Já quis ser médico, cientista, pipoqueiro e presidente. Mas nunca astronauta.
082 - Sou capricórnio, ascendente em câncer e lua em leão. Sou galo de metal para os chineses e Anúbis para os egípcios antigos. Pra quem acreditar, claro, q só existam 12 tipos de pessoas no mundo. :-D 
083 - Já sofri um bocado em minhas emoções, mas já me descuidei e fiz sofrerem, tbm. Estou quite com o mundo, mas sempre buscando mais.
084 - Se pudesse mudar qualquer coisa do meu passado, ficaria na mesma, com medo de perder quem eu sou hoje.
085 - Há meses só ligo a televisão pra ver se acho algum filme bacana passando... normalmente desligo em seguida.
086 - Cozinho pouca coisa, mas adoro tudo o q sei fazer.
087 - Meu maior e mais confesso vício é a cafeína. Tomo em média 800 mL de café, pela manhã. E adoro Red Bull.
088 - Sempre durmo sob o edredom. Ligo o ar condicionado bem frio, só pra isso.
089 - Minha temperatura corporal sobe anormalmente, quando estou relaxado ou dormindo.
090 - Bebo muita água, especialmente depois de certas atividades.
091 - Mesmo acima do peso, nunca tive problemas de pressão e meu sangue é perfeitamente saudável.
092 - Gosto de chocolate amargo. E quanto mais, melhor. Acredito na pesquisa, aliás, que disse que comer chocolate amargo, frios e fazer sexo uma vez ao dia, pelo menos, ajuda na memória.
093 - Bebo com moderação... pq quando extrapolo, é sempre bizarraço.
094 - Gosto de gente interessante. O padrão e banal do mundo me cansam rapidamente. Ninguém que se ache "normal" costuma prender minha atenção. Ficadúvida: quem é normal?
095 - Gente interessante de vez em quando sabe estraçalhar o seu coração e seus sonhos de maneiras antes impensáveis. Sim, esse é um fato sobre mim, tbm. Interprete como quiser, veja se eu ligo. ;-)
096 - Amo nadar e odeio não ter mais tempo pra ir a uma academia onde possa fazer isso, pelo menos três vezes na semana.
097 - Trabalho muito bem sob pressão.
098 - O ócio me irrita profundamente. Descanso é uma coisa necessária, mas ficar sem trabalhar por mais de um mês é coisa que me deprime.
099 - Eu sou melhor (em tudo, juro) quanto menos tempo eu tenho.
100 - Não suporto desrespeito gratuito, julgamentos apressados e preconceitos idiotas.
101 - Enquanto escrevia 101 coisas, pensei em mais de 500, com certeza. A maioria delas, inconfessável, nem todas tão divertidas e algumas até perigosas.
101 - Tenho problemas com convenções, especialmente as numéricas.
101 - Tem quem diga que eu não sei contar.
101 - A verdade é que eu só sei contar até 100.
101 - Se vc chegou tão longe, vc tem muita paciência ou gosta demais da vida alheia.
101 - Já que gosta tanto, estou apaixonado e tem horas que tenho medo disso. Mas amo demais, mesmo assim.
101 - Se vc não consegue ler isso, visite seu oftalmologista.
101 - "Essa viagem é realmente necessária?" *momento pica-pau*
102 - Peraê, são só 101 coisas!
103 - Xiiiiiii... isso aqui ganhou vida própria.
104 - Socoooooooorro!!!
105 - Injeção de Valium é o q há... calei as vozes. Boa tarde a todos.