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segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

Sonhos de Outrora III *sangue às paredes*

Ela percorria as trilhas daquela floresta agora deserta. Por muitas vezes, temera perder-se, ao ir em busca de algo que ela e seu amado pudessem comer e beber. Agora, não carregava mais a arma dele, aquela lâmina tão surrada e sem o seu brilho de aço rígido e polido, de apenas poucos dias atrás. A espada havia voltado à bainha de seu valoroso dono e lá repousava, assim como ele, à borda da luz bruxuleante de uma fogueira. A amazona elfa tinha o semblante sério, buscando sinais daquela clareira e o que sequer podia chamar de um acampamento, pois os dois dormiam ainda ao relento, esperando que alguns poucos dias de descanso fossem o suficiente para que juntos conseguissem cobrir a distância até um local mais seguro, sem terem de parar e descansar mais. O corpo esguio dela deslizava com facilidade por entre aquelas árvores e a mata alta, à mão esquerda as pequenas aves que conseguira de alimento e a bota de couro com água fresca do riacho mais próximo. À direita, a lança habilmente esculpida de um imenso galho da madeira mais firme que aquele local podia lhe proporcionar.

- Um céu de nuvens... uma noite sem luz...

Murmurava para si mesma, lembrando de tudo o que seus ancestrais lhe haviam ensinado sobre a sobrevivência nas terras ermas. Deslizava os dedos pelos troncos das árvores mais próximas, procurando sinais familiares, e então sentia as primeiras gotas lhe atingirem a pele macia e quente do esforço de manter-se em movimento. Chuva. As nuvens decidiam se fazer ainda mais presentes e vir refrescar-lhe um pouco, daquele esforço. Ficava, em parte, agradecida por aquilo, mas temia o que poderia se esconder no escuro ainda mais intenso de não ter uma fogueira acesa, madrugada adentro. E aqueles animais que trazia seriam comidos crus. Aquilo lembrava-lhe demais o frio do calabouço, para achar que poderia simplesmente ignorar o fato, mas a fome com certeza seria bem maior que qualquer lembrança.

Um rastro... seus dedos encontravam um lanho à casca de uma árvore próxima e ela os deslizava pelo sulco, percorrendo a extensão e encontrando uma pequena lasca de metal incrustada ali. Ela sorria. Era um fragmento da arma de seu amado Troll, sinal da intensa batalha a qual ela mesma vencera, defendendo a liberdade dos dois. Ela não estava longe, mas não gritaria pela voz de seu guerreiro ferido. Não queria chamar atenção. Guiava-se agora pelo tato, sentindo as marcas de golpes mal calculados e o visco de sangue já coagulando, como se alimentasse aquelas plantas. Aquela floresta tão sombria.

- Já estou indo... não durma ainda.

Em meio ao seu sorriso, ela urmurava aquilo bem baixinho, ao vento, como se ele pudesse ouvi-la, ali perto. Seus passos ágeis com um impulso renovado. Ela não sentia-se mais perdida naquela noite de ébano e logo o encontraria novamente. Firmava a lança à mão direita enquanto ia apoiando-se em raízes e galhos mais baixos, para cobrir mais terreno até aquela clareira, que agora sua mente conseguia divisar, mais à frente.

****

O bravo guerreiro perdia a noção do tempo, aguardando que sua amada retornasse com algo que pudesse mantê-los vivos mais alguns dias. Já conseguia levantar-se sem ajuda, por menos que estivesse em sua melhor forma. Na manhã seguinte, deixariam aquele lugar em uma marcha forte, rumando para o sul, além dos grandes vales, para onde finalmente estaria em paz e segurança, com sua amada Sidhe. Sentia os ferimentos reclamando e lembrava-se do quanto tentara pedir a ela que não fosse sozinha. Também estava ferida, de ter tido sozinha de defendê-lo daqueles rastreadores sombrios que seus captores haviam mandado atrás de ambos.

- Meu amado...

A voz chegava a ele, tão melodiosa, ao fim daquela tarde, quando o crepúsculo já avançava. Sua pele tão macia, as belas feições que tocavam o coração daquele orgulhoso ser. Ele sorria de volta... ela retornava ainda com um pouco de claridade, e isso aliviava-lhe o coração.

****

Um dia inteiro fora, ela não fazia noção de que horas poderiam ser, já. A chuva molhava-a e deslizava por dentro das roupas, por entre os dedos. Ela suspirava, mas não perdia o sorriso, pensando na imagem de seu belo guardião esperando seu retorno. Já imaginando seu abraço quente, acolhendo-a de todo o frio e quaisquer preocupações. A clareira. Em meio à massa escura das árvores, ali estava aquela abertura e ela logo pôde ver... arregalava seus olhos, ante aquela visão, enquanto seus passos estancavam, por um momento.

- Não, não, não...

Balbuciava, à borda da clareira, vendo o vulto de um corpo estirado sobre a fogueira. Naquela escuridão agourenta, podia divisar apenas os copos da espada de seu amado... a lâmina atravessava aquele corpo. O desespeiro tomando-a, um grito de pavor e o salto à frente, surgindo correndo pela clareira, mas sendo agarrada por uma imensa sombra que vinha tomá-la, saindo de trás de uma árvore. A lança caía ao chão, a Sidhe se debatia, em meio ao desespero.

- Não... NÃO!!!!

Mas então um dedo tocava-lhe os lábios, calando-a. Ela reconhecia aquele toque. Reconhecia os braços q a envolviam... e o debater cessava. Aquela voz grave, que sempre sabia acalmá-la, sussurrava em seu ouvido.

- Tentou enganar-me... sob a máscara de seu rosto e a canção de sua voz.

E ela então compreendia. Com aquela batalha, todos os gritos e o sangue derramado ali... os espíritos da floresta não queriam mais aqueles dois invasores.

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Para as duas primeiras partes desse conto:
Sonhos de Outrora I
Sonhos de Outrora II

3 comentários:

Tyr Quentalë disse...

A busca de algo para mantê-los vivos. A noite que vinha se tornar uma ameaça. OS medos que dominavam os corações preocupados, transformou-se em um momento de preocupação e angustia ao ver que outras forças tentam ainda separar o casal. mas mesmo em todo o desespero, o abraço dos amantes, mostra que nem mesmo estas sombras ou os locais que tão bem os acolhiam e agora os renegam, serão fortes o suficiente para separar o casal.
Amo-te meu Guerreiro, meu Rei.
Beijos de um Sidhe que chorará e que gritará não... não.... Não.. diante da perda de tão amado e querido Troll.

Anônimo disse...

Olá!
Quanto tempo, hein!
Agora fiquei feliz por te ver novamente.
Bjos

Nanda Nascimento disse...

Oi sumido, tem um desafio pra vc lá no Dália, passa lá.

Beijos e flores!!