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quarta-feira, 24 de outubro de 2007

Sacrifício *em sangue, sobre um altar de pedra*

O corpo nos braços Dele, deixando de ser da escrava. Uma vida, pulsante e quente, entregue às mãos de outrem... um ato de puro sacrifício, tornando-a uma oferenda ao Senhor. Ele sente sua pele e arrebate-a com toda a dor e o prazer que só ele sabe proporcionar. A união de corpos que começa quase como um ritual fúnebre.

Panos e roupas de um negro envolvente... a presença de um toque que acolhe o corpo inerte e entregue, sadicamente preparando-o para o sacrifício em nome Dele. Velas queimam à volta... incensos deslizam sobre a pele submissa, parecendo queimar, fazendo-a se sobressaltar como uma vítima que só percebe a realidade de sua escolha quando já está amarrada ao altar.

Por baixo da vendas, alguém chora a morte por vir. O Carrasco não pensa mais do que o necessário, não se comove... apenas a prepara. As velas se aproximando e derramando a cêra quente sobre a pele... o grito que ecoa nas paredes e volta para ela. As amarras são fortes demais... a morte a atingirá, certeira. As lágrimas saem, incontidas... sente o corpo do Carrasco se avolumando próximo e sabe que o sacrifício se inicia.

Toda a dor destes momentos, a aproximando mais do fim. Tanta... tão forte... pontadas agudas dos tapas e a batida forte do açoite. Seu Carrasco é sádico, ri de seu choro. De seu desespero. Seus lábios clamam por perdão, em súplicas incontidas. Tenta, de todas as maneiras, mudar aquela sentença com palavras e gritos de seu arrependimento. Com juras de eterna submissão e obediência.

Mas a sentença é desferida, em meio à intensidade da dor... o corpo já desejava essa morte, o fim de todo aquele sofrimento. Recebe seu momento final com prazer e geme, em satisfação profunda... as estocadas fazendo o corpo se contrair e tremer... a arma que lhe sacrifica deixando escorrer o que desde o primeiro momento já preenchia aquele corpo, em gotas que pontuam o altar... os últimos suspiros saindo em gritos incontidos... últimas súplicas e juras vãs. Sente-se morrer, várias vezes, os espasmos mais fortes, a cada pedaço de sua alma que tenta apagar-se... os nervos se anestesiando, aos poucos... o corpo que renuncia a vida e os gemidos cessando em últimos sussurros de quem tenta respirar uma última vez. Se entrega ao infinito de um nada, que parece cobrir-la. Sua mente inexiste, por alguns momentos... o corpo inerte...

Desperta ao sentir o peso, sobre si... e nota o Carrasco também morto... inerte... o corpo dele unido ao seu... dentro de si... fluidos.

3 comentários:

Anônimo disse...

Hummmm, com um texto como esse dá até vontade de ter esse belo carrasco ao meu lado
^^
Muito bom o texto Addam, está de parabéns, mas não preciso dizer isso, você já sabe...
=*

Tyr Quentalë disse...

Rsrsrs que transformação ao final do texto, não? Todo o momento angustiante e desesperador teve uma transmutação tão grande. Quem tornou-se presa, que tornou-se senhor(a). No fim das contas tudo depende da forma como observamos o prisma. Parabéns meu caro Troll, mais uma vez as paredes de tua caverna fizeram-me prisioneiras dos riscos que lá possuem.

Malcovich, R. & Camplett, E. disse...

Brilhante.
Surpreendente eu posso dizer, um texto que te leva naquela sagaz viagem em que vc muda de lado sem nem bem se dar conta. Perfeito guardião e inspirador eu diria.Rs. Intenso, delicado e rude ao mesmo tempo, sutil de palavras e violento. Excelente mistura. Eu adorei.